História da Catalunha

A Catalunha é uma comunidade autónoma de Espanha, situada a nordeste da Península Ibérica. Ocupa um território de cerca de 32.000 km², limitada a norte pela França e por Andorra, a leste pelo Mar Mediterrâneo, a sul pela Comunidade Valenciana e a oeste por Aragão. A capital, e também a área urbana mais populosa da Catalunha, é a cidade de Barcelona.
A comunidade compreende a maior parte do território do antigo Principado da Catalunha (com o território do Rossilhão, agora parte do departamento francês dos Pirenéus Orientais). A Catalunha é reconhecida como uma nacionalidade, no artigo segundo da Constituição Espanhola onde se refere a nacionalidade histórica, reconhecendo e garantindo o direito à sua autonomia. No preâmbulo do seu Estatuto de Autonomia, aprovado pelo povo catalão via referendo em 2006, a Catalunha é definida como nação.

Idade Média

No século V com a invasão dos povos germânicos, os Visigodos instalaram-se em Tarraconense e em 475 o rei visigodo Eurico formou o Reino Visigodo de Tolosa. Os Visigodos dominaram a região até ao século VIII. Em 711, os Árabes iniciam a conquista da Península Ibérica, algumas batalhas tomaram conta de região principalmente em Tarragona. No último quarto do século VIII veio a reação dos carolíngios (território atual francês), que conseguiram o domínio das atuais cidades de Girona e Barcelona. No final do século IX, Carlos II (ou Carlos, "o Calvo") nomeou Vifredo, o Veloso, Conde de Barcelona e Gerunda. Somente no século seguinte houve independência em relação ao poder carolíngio.

As Cortes Catalãs no século XV



O Condado de Barcelona corresponde ao território governado pelos Condes de Barcelona entre o século IX e o século XVIII, como uma entidade política na Catalunha. Com o casamento do conde Raimundo Berengário IV de Barcelona com Petronila do reino de Aragão, formou-se como que uma confederação, a Coroa de Aragão e o condado de Barcelona (mais tarde como Principado da Catalunha).
O filho da união de Raimundo Berengário IV de Barcelona com Petronila de Aragão, Afonso II de Aragão, foi o primeiro rei da dinastia da Casa de Barcelona no trono da Coroa de Aragão.

A Coroa de Aragão no século XV

A expansão da Coroa teve início com a conquista das cidades de Lérida, Tortosa, Reino de Maiorca (nas Ilhas Baleares), Reino de Valência (que permaneceu com corte própria), Coroa da Sicília, Minorca (nas Ilhas Baleares), Sardenha (ilha italiana).Ao mesmo tempo, o Principado da Catalunha desenvolveu um complexo sistema institucional e político baseado no conceito de pacto entre os estamentos do reino e o rei. As leis tinham que ser aprovadas nas Cortes Catalãs (Corts Catalanes), um dos primeiros órgãos parlamentares da Europa que proibiu o poder real de criar legislação unilateralmente (desde 1283). Em 1359, as Cortes estabeleceram a Generalidade (Generalitat), consolidando o sistema constitucional catalão. Até às primeiras décadas do século XIV, a coroa teve o seu apogeu, que começou a mudar com o surgimento de catástrofes naturais, crises demográficas, recessão da economia catalã, o surgimento de tensões sociais e crise sucessora (o Rei Martin I não deixou sucessor nomeado). Em 1443, após a conquista do Reino de Nápoles a crise agravou-se.

Idade Moderna

Em 1469, o Rei Fernando II de Aragão, da Casa de Trastâmara, casou-se com Isabel I de Castela o que conduziu a uma união dos dois reinos e a formação da Monarquia Católica. A Catalunha passa a ser um principado periférico dentro da confederação hispânica. Cada reino tinha as suas próprias leis, moedas, cortes ou línguas.

Corpus de Sang, um dos eventos iniciais da Guerra dos Segadores

Nos séculos XVI e XVII, a Catalunha viveu um período de decadência. Em 1640 a obrigação de alojar tropas castelhanas, o abuso dos militares e as consequências derivadas da guerra provocam grande repulsa entre a população catalã. Em 7 de junho do mesmo ano, durante a festividade do Corpo de Deus, um ceifeiro (em catalão “segador”) é morto, o que por sua vez leva à morte do Conde de Santa Coloma, a maior autoridade da monarquia na Catalunha nessa altura. Os catalães envolveram-se num conflito, a Guerra dos Segadores, de 1640 até 1652, contra a presença de tropas de Castela em território catalão, durante a guerra dos trinta anos, o que acarretou a posterior incorporação do Rossilhão no reino francês.
Durante a Guerra de Sucessão Espanhola (1701 – 1713/1715), a Catalunha apoiou o pretendente austríaco (tal como Inglaterra, os Países Baixos e Portugal), assinando-se em 1713 a paz com o Tratado de Utrecht, deixando os catalães abandonados ao seu destino. Apesar de conseguirem resistir e inclusive vencer as tropas borbónicas, tal como na Batalha de Talamanca, o avanço do exército real continua tendo culminado com a Batalha de 11 de Setembro de 1714. Apesar do heróico combate, acabou quase completamente com a oposição catalã, que se rendeu às tropas do pretendente francês a 18 de Setembro no último castelo a cair, o de Cardona. O novo rei, Filipe V de Espanha (conhecido como Filipe de Anjou, era neto do rei francês Luís XIV), proclamou o Decreto da Nova Planta. Com este Decreto, o principado da Catalunha, assim como todos os outros que apoiaram ao arquiduque Carlos de Áustria, deixou de ter um governo próprio (as Cortes, a Generalidade, o Consell de Cent (Conselho de Cem) e restantes instituições de governo catalãs foram abolidas).

Idade Contemporânea

No século XIX a Catalunha foi severamente afetada pelas guerras napoleónicas e carlistas. Ao longo do século XIX a Catalunha representa a força industrial da Espanha, é a primeira a introduzir a industrialização a vapor. O têxtil representa a força da indústria catalã do século XIX. Também o comércio com as nações americanas contribuiu para a revolução industrial, dos transportes e tecnológica. O capital estrangeiro investido na Catalunha permite introduzir a siderurgia, além de outros novos elementos característicos da Revolução Industrial. Os primeiros bancos conseguem grande impulso durante à chamada Febre do Ouro até à quebra dos mercados de 1866.
Em 1873 é proclamada a Primeira República Espanhola e destituída a monarquia. Durante a curta vida da república (1873-1874) duas propostas de Estado serão debatidas em Madrid. A primeira delas vê a Espanha como uma única nação, a segunda, apoiada pela Catalunha, pretende um Estado federado. Francesc Pi i Margall, catalão, é proclamado Presidente. O golpe de estado monárquico acontecerá em 1874.
Nos finais do século XIX nasceu o movimento chamado em catalão "Renaixença", que foi o início das reivindicações do catalanismo político. Os primeiros representantes do catalanismo político foram Valentí Almirall, Enric Prat de la Riba e Francesc Cambó.
Em 1914 formou-se a Mancomunitat (união administrativa das províncias de Lérida, Barcelona, Tarragona e Girona), primeiro organismo administrativo de Catalunha reconhecido pelo Estado Espanhol desde a Guerra de Sucessão Espanhola. Seu projeto de modernização incluiu a construção de infraestruturas, escolas, bibliotecas e atualização da língua catalã. A Mancomunitat foi dissolvida pela ditadura de Primo de Rivera no ano de 1923.
Com a proclamação da II República Espanhola, em 1931, reconheceu-se a autonomia da Catalunha, não obstante se ter chegado a proclamar unilateralmente a República Catalã, mas a proclamação não foi bem aceite pelo governo de Espanha, embora fosse uma proclamação federalista. Depois de prolongadas negociações aprovou-se o seu Estatuto no ano de 1932, aprovado com 99% dos votos por referéndum. O novo estatuto dava oficialidade a língua catalã, restabelecia o autogoverno da Catalunha e designava a Catalunha como uma região autónoma, tendo sido eleito Presidente da Generalidade Francesc Macià (da Esquerda).
Com a derrota dos Republicanos na Guerra Civil (1936-1939), a Catalunha perdeu novamente a sua autonomia, todas as instituições de autogoverno catalãs foram banidas, e sofreu uma importante e pesada repressão cultural e linguística (com a abolição e proibição do uso do catalão), por parte do Estado Nacionalista Espanhol, totalitário e de inspiração fascista. Em 1940 o presidente catalão, Lluís Companys, foi fuzilado pelo regime fascista espanhol.
Os anos após a guerra foram extremamente duros. A Catalunha, como muitas outras partes da Espanha, havia sido devastada pela guerra. A recuperação dos danos de guerra foi lenta. Durante os anos 60 houve um crescimento espetacular da indústria e do turismo na Catalunha.
Com a morte do ditador Francisco Franco (1975) e o fim da ditadura, em 1977 foi a primeira comunidade a recuperar a sua autonomia, restaurando a Generalidade (exilada desde o fim da Guerra Civil em 1939) e adotando um novo Estatuto de Autonomia em 1979.
Em 1992, Barcelona organizou os Jogos Olímpicos.
Atualmente a Generalidade da Catalunha conta com delegações no estrangeiro e tem diversas competências exclusivas nas áreas da segurança, saúde, cultura e educação.
O novo Estatuto de Autonomia da Catalunha, aprovado após um referendo em 2006, foi contestado por importantes setores da sociedade espanhola, especialmente pelo Partido Popular, que enviou a lei ao Tribunal Constitucional de Espanha.
Em 2010, o Tribunal declarou não válidos alguns dos artigos que estabeleceram um sistema autónomo catalão de Justiça, melhores aspetos no financiamento, uma nova divisão territorial, o estatuto da língua catalã ou a declaração simbólica da Catalunha como nação, entre outros. Esta decisão foi severamente contestada por grandes setores da sociedade catalã, que aumentou as exigências da autodeterminação.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Catalunha