Alunos portugueses descobrem quatro asteróides, entre Marte e Júpiter

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Não são cientistas, nem sequer adultos e já descobrem asteróides. Rúben Passarinho tem 12 anos e quer ser cientista quando for grande. Tiago Cunha, de 11, faz da astronomiaum passatempo e interessa-se por tudo o que se passa no Universo. Eles e os colegas de escola acabam de detectar quatro asteróides, na cintura entre Marte e Júpiter. 



“Gosto de descobrir asteróides, ver se podem ter impacto na Terra”, diz Rúben Passarinho, da Escola Secundária de Matias Aires, no Cacém. “E é divertido estarmos todos no computador à procura”, continua o caçador de astróides. “Agora sou um descobridor, quando for grande quero ser cientista.”

Todas feitas em Novembro, estas descobertas fazem parte do programa All-Portugal Search Campaign, que desde 2007 integra o projecto International Asteroid Search Collaboration (IASC). A participação portuguesa faz-se através do Núcleo Interactivo de Astronomia (NUCLIO), criado por astrónomos para a divulgação científica, e já tinha permitido encontrar 13 asteróides antes desta campanha.

Apesar de ser um dos descobridores dos asteróides, Tiago Cunha, da Escola Básica de Vilar de Andorinho (concelho de Vila Nova de Gaia), não quer ser cientista. Gosta é de economia. O que é então a astronomiapara ele? “É um passatempo muito divertido. Tenho interesse pelo conhecimento do Universo, faço isto por gosto e curiosidade.”

E o que tiveram de fazer estes alunos do ensino básico e secundário para descobrirem quatro bocados de rochas no espaço? Utilizaram um software de astronomia, para identificar nas imagens ospontos que se moviam no céu.

O professor João Vieira, responsável pela equipa da Escola Secundaria D. Maria II de Braga, explica como tudo se passou: “Os alunos fazem uma animação das imagens para detectar objectos em movimento. Na maioria dos casos, os pontos luminosos são asteróides ou cometas já conhecidos, que pretendemos vigiar ou refinar as órbitas.”

No entanto, por vezes, são detectados novos objectos em movimento nunca antes observados. As imagens utilizadassão captadas pelo Instituto de Investigação Astronómica, em Charleston, nos Estados Unidos, e são enviadas para as escolas portuguesas. A animação é feita com um software especial para a procura de asteróides, o Astrometrica.

Opasso seguinte é fazer um relatório.A descoberta tem de ser confirmada pelo Centro de Pequenos Planetasda União Astronómica Internacional, o organismo responsável pelos pequenos corpos do sistema solar, como planetas-anões (Plutão é um deles), cometas, asteróides e satélites naturais.

“Este processo requer muita atenção, uma vez que os asteróides não emitem luz como as estrelas. Apenas reflectem uma parte da que recebem, por isso são difíceis de detectar”, explica Paula Carneiro, professora responsável da equipa da escola de Vilar de Andorinho.

Nomes provisórios

Assim que recebem as imagens, os alunos têm 72 horas, no máximo, para enviar o relatório. “Depois têm menos de uma semana para observar de novo esse asteróide, para que seja confirmado”, explica Ana Costa, coordenadora em Portugal das campanhas de procura de asteróides do IASC, acrescentando que esta é uma forma “de atrair os alunos para a as áreas científicas e tecnológicas”.

“Os meus alunos sentem que dão um contributo à ciência. Além de muito estimulante, este projecto desenvolve o gosto pela área, pelo trabalho de equipa e o sentido de responsabilidade”, sublinha, por sua vez, João Vieira. “É muito importante que os alunos tenham a oportunidade de ser cientistas, de fazerem exactamente o que um astrónomo faz. E vêem objectos que nunca foram vistos por ninguém”, acrescenta a professora Margarida Pessoa, da Escola do Cacém.

Por agora, os asteróides não têm nomes muito apelativos. Os dois corpos descobertos pela escola de Vilar de Andorinho chamam-se 2012 VL62 e 2012 VM62, enquanto o da escola do Cacém é o 2012 WJ e o da de Braga é o 2012 VM16.

Só daqui a muitos anos, quando se conhecer o asteróide a fundo, nomeadamente a trajectória e o tamanho, é que os quatro asteróides terão nome, explica Ana Costa. Nessa altura, o Centro de Pequenos Planetas contactará os alunos para lhes pedir que dêem um nome aos asteróides.